quinta-feira, 9 de novembro de 2023

Filmes

ASSASSINOS DA LUA DAS FLORES (Avaliação 4,5/5 - Excelente!)

 Nova produção de Martin Scorsese narra um fato que poucos conhecem em uma trágica história de poder, dinheiro e jogo de interesses. Vamos a análise!
 Final do século XIX e início do século XX. Uma tribo indígena chamada ‘Osage’ ocupam terras que lhes foram concedidas pelo governo americano a época. Porém esse mesmo povo descobre que suas posses são mais valiosas do que imaginavam ao encontrar altos índices de petróleo nelas. Isso faz com que esse povo se torne um dos mais bem sucedidos e ricos da região, atraindo olhares curiosos de muitos. E desses ‘muitos’, olhares de brancos que, não conformados com o que tal povo tinha conquistado, resolvem se infiltrar no meio deles para, da forma mais suja possível, arrancar-lhes suas terras, posses e domínio. Essa é a principal narrativa deste filme de época que conta um caso brutal e real que remonta sempre ao mesmo principo: até onde vai a ganância humana por bens e recursos? ‘O amor ao dinheiro é a raiz de todos os males’, diz um verso bíblico. E esse verso é tão crível que, ao longo de toda a história da humanidade, esse ‘amor’ sempre esteve presente derrubando reis, nações, pessoas, cidades inteiras, vidas. E essa é mais uma história que a maioria desconhece, mas com as mesmas e imutáveis intenções. E veremos mais abaixo alguns porquês de tanta crueldade e o quanto diretor e elenco são impecáveis em seus papéis para o desenvolvimento de toda a trama.

DiCaprio e De Niro: impecáveis.

 Um roteiro preciso e bem construído. O que faz um filme te manter cativo o olhar por mais de três horas seguidas sem querer perder nenhum detalhe? Justamente seu bom roteiro e diálogos instigantes e envolventes. E não me leve a mal. Não é sobre o tamanho do filme (há animações espetaculares que duram uma hora e trinta minutos e são extremamente bem trabalhadas), mas sobre como o longa te fornece informações sobre a trama que deixam o espectador interessado nos mínimos detalhes. E é exatamente isso que Scorsese faz nessa produção de três horas e vinte e seis minutos. ‘Oppenheimer’ de Nolan oferece o mesmo. A experiência que está sendo transmitida através da imposição de diálogos induzidos, feitos para serem complementados mais a frente é o que gera a atenção do público. O mais interessante aqui é como um fazendeiro sórdido, vivido brilhantemente pelo ator Robert De Niro, consegue ‘captar’ a essência dos indígenas, se infiltrando dentro da comunidade para ter acesso a informações privilegiadas sobre os mesmos e usando essas informações contra os próprios indígenas da região. E tudo isso é feito com tanto capricho pelo ator que faz o seu personagem se tornar inescrupuloso a níveis que só um ator do calibre desse pode fazer. Vou detalhar isso mais abaixo.
 Atuações e atores muito bem escolhidos. Como disse no parágrafo anterior, De Niro, no auge dos seus oitenta anos, consegue nos transportar para dentro dessa indigesta história da humanidade de forma extremamente competente. Ele, embora seja mais um coadjuvante, é a ‘mola-mestra’ de toda a trama. As atitudes de seu personagem são tão insanas quanto perversas com um toque de classe e cinismo memoráveis. E na impecabilidade de sua atuação, vemos também o sobrinho do fazendeiro sujo, vivido pelo ator Leonardo DiCaprio, em uma química e coordenação de se aplaudir de pé. DiCaprio tem se tornado um nome tão influente na indústria que a cada filme seu, suas atuações - principalmente quando ele faz certos monólogos – são de ‘cair o queixo’ de tão exuberantes e bem pontuadas. Lembro-me de um monólogo incrível dele em ‘Era uma vez em...Hollywood’ (filme de Quentin Tarantino) em que ele simplesmente merecia um ‘Oscar’ só por aquela cena. E isso aqui não é ‘rasgação de seda’. O ator tem provado seu valor a cada nova produção e nesta ele brilha como protagonista como ninguém. A química com De Niro e com a atriz Liliy Gladstone (que interpreta ‘Mollie’, sua esposa indígena no longa) são colossais. A mesma aura cínica de seu tio é imposta no personagem de DiCaprio de forma esplendorosa. E ver o desenvolvimento de ‘Ernest Burkhart’ (DiCaprio) desde da chegada dele até a casa do tio e no que ele se transforma é algo que só um ator de bom nível e que sabe trabalhar a construção de seu personagem consegue fazer. E DiCaprio tem se tornado esse ator, que sabe executar muito bem as nuances, discrepâncias e mudanças das pessoas que ele interpreta. Brilhante.

Lily Gladstone e DiCaprio: ótimas performances.

 Amor ao dinheiro e poder: um mal recorrente na humanidade. A influente e primorosa mensagem aqui dirigida magistralmente por Scorsese e executada impecavelmente pelos atores em questão é justamente até que ponto as pessoas se importam com as outras quando o assunto envolve bens. O ser humano é tão influenciável pelo apego a moeda que faz girar o mundo que se esquece até do outro. A prova disso está estampada de forma escancarada nesse filme. A quem importa as vidas se o que eles oferecem sobrepuja o próprio valor de viver? Cidades, comunidades e vilas inteiras podem se tornar poeira por causa do amor ao dinheiro. E veja bem. Nessa dissertação filosófica que faço, aponto sempre o ‘amor ao dinheiro’, e não a espécie papel-moeda em si. O dinheiro é bom quando ele não se torna em seu coração o seu ‘deus’. Porém, quando ele se torna mais valoroso interiormente, o que um ser humano pode fazer para obtê-lo pode ir além da compreensão humana. Tirar vidas pode ser apenas mero detalhe. Distanciar parentes ou pervertê-los não fazem diferença nenhuma. ‘Jogar o jogo’ é o que mais importa. Mesmo que o fim seja trágico para alguns. Esse é o principal sermão do diretor para todos nós refletirmos enquanto ainda temos consciência dos nossos atos.
 Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! “Assassinos da Lua das Flores” é Martin Scorsese em sua mais completa e profunda reflexão sobre a vida. Seus filmes já fazem isso? Obviamente. Mas aqui ele alcança mais um patamar de maturidade com questões filosóficas profundas, um elenco afiadíssimo e grandes chances de concorrer em várias categorias ao ‘Oscar’ em 2024. Um filme reflexivo e analítico que prende o espectador do início ao fim. Vale demais o ingresso!

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