OPPENHEIMER (Avaliação 5/5 - Excelente!)
Com edição e montagem primorosos, novo filme de Christopher Nolan
cumpre sua função histórica em uma bela obra-prima do cinema.
Vamos a análise!
Período histórico: epicentro da Segunda
Guerra Mundial. Com receio de uma corrida armamentista a frente por
parte de países como Alemanha e Rússia (antiga União Soviética), o
governo e as forças armadas norte-americanas buscam uma solução
para um grande impasse: vencer de forma efetiva a guerra e encerrar
de vez o confronto. Surge então um físico, conterrâneo de Albert
Einstein, que começa a fazer pesquisas sobre o mundo quântico e
subatômico. Com isso, as forças armadas estadunidenses põem-no a
frente da pesquisa mais desafiadora e difícil de sua vida: criar uma
arma tão poderosa que pudesse trazer temor e medo aos adversários e
eliminar pela raiz suas defesas. Essa é uma premissa leve e sutil
sobre Julius Robert Oppenheimer, o homem que criou a arma mais mortal
já vista pelo homem e mudou de uma vez por todas aquela parte da
história da humanidade. Para sempre. Baseado nesse contexto, Nolan
explora de maneira colossal a vida e os detalhes sobre este notável
homem que teve papel crucial durante este evento de proporções
infelizmente catastróficas – afinal de contas, nenhuma guerra no
fim é boa para nenhum dos lados envolvidos. Mas, falando
especificamente sobre o longa, é uma obra de arte digna de
indicações ao Oscar, quer por sua ousadia em contar sobre a pessoa
em questão, quanto sua sagacidade como diretor em produzir um filme
tecnicamente perfeito e amplamente compreensível, mesmo com suas
três horas de duração. Falaremos um pouco mais sobre a película
logo abaixo.
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Cillian Murphy: impecável. |
Edição e montagem excepcionais. Se existe algo que pode complicar
a situação de qualquer filme que se proponha a executar com
maestria seu roteiro elaborado, esse algo é certamente a montagem e
edição de um filme. Toda a trama, enredo e narrativas podem ficar
confusos ou não ser explicados corretamente sem o cuidado necessário
nessa parte. O corte final das filmagens precisa ser coeso, para que
não haja distanciamento entre o público e a obra. Porém a
impressionante e competente equipe dessa área conseguiu um feito
para poucos: elucidar a história de uma forma tão assertiva em uma
montagem muito fina e riquíssima, onde cada quadro de tela é
milimetricamente bem executado conseguindo dar ao público um
panorama tanto geral (sobre o conflito) quanto sobre a vida pessoal
de Oppenheimer. Difícil achar palavras para descrever o quão bem
trabalhado foi. Só endosso aqui minhas palavras dizendo: está
realmente primoroso esse aspecto da produção.
Nolan dirige de
forma excepcional o roteiro. Que esse diretor tem um currículo
substancial, disso não temos a menor dúvida. E mesmo que seus
filmes normalmente deixem um ‘mistério no ar’, é inegável sua
excelente veia artística para a direção e produção de conteúdo
audiovisual. Alguém lembra da maravilhosa e elogiadíssima trilogia
do ‘Batman’ dele? Pois é. Mais uma vez ele acerta a mão da
forma mais notável possível. O requinte dos diálogos bem postos e
muito bem elaborados, o posicionamento dos personagens na trama, a
soberba trilha sonora, o elenco estelar que foi contratado para este
trabalho, as intensas reviravoltas na vida do físico e tudo o que
diz respeito ao que uma boa mão na condução de um filme sabe fazer
está lá. Não é exagero o que digo aqui e nem estou tentando ser
parcial. Sua obra é digna e merecedora de todos os elogios
possíveis, pois um filme que praticamente só tem diálogos durante
toda sua execução conseguir te prender sem quebra de ritmo nem
furos, só diretores de nível alto como ele, Spielberg ou Cameron
conseguem. É história e arte em seu estado mais puro e inspirado. É
impossível negar esse feito. Parabéns, Nolan!
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Excelente escolha de elenco. |
Um elenco realmente de milhões. Cillian Murphy foi escalado para
interpretar o protagonista central dessa história e sem medo de
errar: se escolhessem outro, daria tudo errado. Cillian é impecável
nos trejeitos e maneirismos de época, bem como na sua fina condução
na forma de executar a problematização de seu personagem. Consegue
ser genial e cirúrgico ao mesmo tempo, dando camadas de profundidade
em momentos cruciais da narrativa, seja com gestos, seja com
explicações, ou com expressões tão bem colocadas que se vê o
quanto o ator se dedicou para a execução desse. Outro que está
elevadíssimo em interpretação (o elenco conta com nomes gigantes
da indústria como Matt Damon e Emily Blunt, entre também os que
estão em ascensão como Rami Malek e Florence Pugh) é Robert Downey
Jr. Ele interpreta ‘Lewis Strauss’, a época Secretário Interino
de Comércio dos EUA e que tem profunda participação na história
de Oppenheimer. Downey Jr. está, ao meu ver, em uma de suas melhores
performances de sua carreira e arrisco dizer que há reais chances de
não só ele, mas Cillian também serem indicados ao Oscar 2024.
Podem anotar. Ambos estão excelentes em cena e em perfeita sintonia
com seus papéis.
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Robert Downey Jr. brilha em cena. |
O contraste colorido/preto e branco. Uma camada instigante e
intrigante da produção desse longa é o jogo multicores que Nolan
usa para contrastar cenas, trama, personagens e história. Por vezes
você vê o longa em cor, outrora repentinamente a tela fica em preto
e branco. Arrisco ao menos duas interpretações particulares sobre o
uso dessa técnica: uma para dar enfoque que os acontecimentos
naquele período foram mostrados em preto e branco, pois não havia
naquela época aparelhos de TV em cor. Então, para dar o fino
contraste juntamente com os figurinos de época, ele decide fazer
esse jogo de cores. Agora, uma outra mais aprofundada, é a de que em
diversos momentos ele põe o personagem de Downey Jr. em preto e
branco e o de Cillian em cor, fazendo, sob meu olhar, uma clara
alusão a ‘pessoas trabalhando juntas em lados opostos’ percebe?
Isso fez bastante sentido para mim no final do filme, pois essa
mescla é ainda mais bem definida e demonstrada. Mas sem ‘spoilers’
por aqui, caro leitor. Assista o filme e perceba a forma como isso é
amplamente usado durante toda a projeção. Esse foi o meu
entendimento sobre. Deixo a seu cargo, querido leitor, sua
interpretação também sobre esse curioso adendo no longa.
Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! “Oppenheimer”
é uma obra de arte em formato audiovisual que vislumbra a dinâmica
da Segunda Guerra, porém do lado de dentro dela através de um homem
no meio da situação toda. O que vemos por vezes em documentários é
nomes dos países envolvidos e suas próprias convicções. Cada um do
seu lado. Nolan trouxe além. Mostrou o horror por dentro, sob o
olhar devastador daquele que criou a maior corrida armamentista da
história da humanidade, e que perdura até os dias de hoje,
infelizmente. O Oscar vem. Só isso que tenho a dizer. Se tornou um
dos três melhores filmes que já vi em toda minha vida. Vale
demais seu ingresso!
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