A MULHER REI (Avaliação - 5/5 - Excelente!)
História nunca antes retratada sobre povo africano é muito bem
abordada, dirigida e roteirizada nesta produção estrelada pela
atriz Viola Davis. Vamos a análise!
Um continente. Várias
tribos. Propósitos distintos. Talvez seja assim que eu deva começar
esse texto, pois cada minuto desse longa explora vertentes
interessantíssimas sobre um ambiente quase que inexplorado nas telas
de cinema. Temos sempre a visão meio que estereotipada por Hollywood
sobre a nação africana como um todo. E essa obra chega mais uma vez
para quebrar certos paradigmas e renovar conceitos que foram pré
estabelecidos já na época em que o filme se passa (por volta dos
anos 1800). Em meio aos portugueses que chegavam a costa africana
para angariar escravos, tribos fortes e obstinadas já se encontravam
naquele ambiente. E é aí que entram as guerreiras Agoji de Dahomey,
uma elite de mulheres altamente treinadas e preparadas para guerra e
defesa de seu povo. Povo este que era oprimido por outras tribos que
capturavam pessoas para servirem de comércio aos colonos
portugueses. E o que mais me impressiona nessa parte não contada da
história é o fato da concepção desta película abordar o lado
mais desconhecido destes eventos. Para além de mostrarem a força
das mulheres – que começaram a ser treinadas por conta de muitos
dos homens de batalha desta tribo terem morrido em combate e não
haver um exército condizente para tal função - ,o filme
brilhantemente retrata a cultura, a força, o sofrimento e o que cada
tribo agregava de valores para si. Os Dahomey, apesar dessa formação
praticamente militarizada dos seus, foi posto em tela pela produtora
(que é a própria Viola) de forma mais romantizada por assim dizer.
Em uma de suas entrevistas aqui na sua passagem pelo Brasil, ela
destaca algo que define alguns conceitos sobre sua concepção para o
filme. Ela diz: ‘Se em algum momento elas (essas guerreiras que
eram recrutadas na vida real) decidissem não lutar, algumas delas eram
decapitadas. E essa é a parte da história que, para mim, como
artista, é meu trabalho humanizá-las’. E mesmo que as escolhas
estéticas e narrativas não sejam o que nua e cruamente foi ao longo
desse evento histórico, são com eles que se podem acender uma chama
de maior curiosidade ao mundo em querer saber um pouco mais sobre
esse período. E toda essa mescla de transposições e contextos
produzem um capítulo incrível da história da humanidade que ficou
‘escondido’ por muitos anos e agora temos a oportunidade de ver
tudo isso sendo recriado em tela de forma muito satisfatória e,
mesmo que haja licença poética em filmes que são baseados em fatos
reais, ele consegue abranger os conceitos e capturar a essência da
compreensão do momento histórico relatado. É realmente agregador
quando algum tipo de mídia te faz alusão ao passado para
compreensão de um contexto de atualidade. E esse filme faz isso
muito bem e com muito esmero.
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Viola sempre impecável nas atuações. |
Uma guerreira de alta patente. A abordagem do longa começa por
mostrar ‘Nanisca’ (Viola Davis), uma mulher forte, líder dessa
elite de guerreiras, de posições firmes e que esconde um delicado e
trágico passado. E aqui Viola entrega uma atuação condizente,
pertinente e digna de uma vencedora do Oscar. A postura
perfeccionista da personagem é perfeitamente bem delineada pela
atriz, que mostra mais uma vez sua magnífica capacidade de mostrar
seu talento em tela e a sua fictícia personagem ('Nanisca' foi criada para o filme) com sua densa história certamente reflete o que acontecia com muitas das mulheres naquele período. Junte-se a ela a atriz Lashana Lynch (que
interpreta a personagem ‘Izogi’) e Thuso Mbedu (que interpreta a
também magnífica ‘Nawi’) e então teremos um trio
dramaticamente impecável em cena. O trabalho em conjunto e a química
entre elas fazem a trama toda ser majestosa e muitíssimo bem
escrita. Embora todo o elenco adicional seja muito bem ajustado, são
elas três que conduzem praticamente toda a narrativa do longa. E o
‘timing’ juntamente com a execução são realmente primorosos.
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Outra parte do excelente elenco. |
Direção de fotografia deslumbrante e finíssima. Outro ponto muito
alto desse filme diz respeito ao quão impressionante e bem
posicionada é a fotografia deste longa. Desde visuais naturais
lindíssimos e de tirar o fôlego até cenas de batalhas absurdamente
bem coreografadas, tudo aqui contribui para que a produção esteja
em um altíssimo patamar de qualidade. Inclusive existe um
determinado momento em que há uma intensa batalha que acontece
durante o dia e a produção faz questão de escurecer, acinzentar
a paleta de cores para dar o tom pesado que a cena necessita,
produzindo, além de um belo efeito, uma carga ainda mais dramática
ao evento. Chance de indicação ao Oscar no quesito ‘Direção de
Fotografia’ quase que certa, ao meu ver.
Enfim, vale a pena
ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! Viola Davis e grande elenco
simplesmente brilham em seus papéis em “A Mulher Rei”. O
conjunto da obra é tão rico, bem exposto e com tamanha qualidade
que vale muito assistir pelo contexto histórico real e pelas
tremendas interpretações. Cheirinho de muitas indicações ao Oscar
2023 vindo por aí. Vale demais o ingresso!
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