segunda-feira, 3 de outubro de 2022

Filmes

A MULHER REI (Avaliação - 5/5 - Excelente!)

 História nunca antes retratada sobre povo africano é muito bem abordada, dirigida e roteirizada nesta produção estrelada pela atriz Viola Davis. Vamos a análise!
 Um continente. Várias tribos. Propósitos distintos. Talvez seja assim que eu deva começar esse texto, pois cada minuto desse longa explora vertentes interessantíssimas sobre um ambiente quase que inexplorado nas telas de cinema. Temos sempre a visão meio que estereotipada por Hollywood sobre a nação africana como um todo. E essa obra chega mais uma vez para quebrar certos paradigmas e renovar conceitos que foram pré estabelecidos já na época em que o filme se passa (por volta dos anos 1800). Em meio aos portugueses que chegavam a costa africana para angariar escravos, tribos fortes e obstinadas já se encontravam naquele ambiente. E é aí que entram as guerreiras Agoji de Dahomey, uma elite de mulheres altamente treinadas e preparadas para guerra e defesa de seu povo. Povo este que era oprimido por outras tribos que capturavam pessoas para servirem de comércio aos colonos portugueses. E o que mais me impressiona nessa parte não contada da história é o fato da concepção desta película abordar o lado mais desconhecido destes eventos. Para além de mostrarem a força das mulheres – que começaram a ser treinadas por conta de muitos dos homens de batalha desta tribo terem morrido em combate e não haver um exército condizente para tal função - ,o filme brilhantemente retrata a cultura, a força, o sofrimento e o que cada tribo agregava de valores para si. Os Dahomey, apesar dessa formação praticamente militarizada dos seus, foi posto em tela pela produtora (que é a própria Viola) de forma mais romantizada por assim dizer. Em uma de suas entrevistas aqui na sua passagem pelo Brasil, ela destaca algo que define alguns conceitos sobre sua concepção para o filme. Ela diz: ‘Se em algum momento elas (essas guerreiras que eram recrutadas na vida real) decidissem não lutar, algumas delas eram decapitadas. E essa é a parte da história que, para mim, como artista, é meu trabalho humanizá-las’. E mesmo que as escolhas estéticas e narrativas não sejam o que nua e cruamente foi ao longo desse evento histórico, são com eles que se podem acender uma chama de maior curiosidade ao mundo em querer saber um pouco mais sobre esse período. E toda essa mescla de transposições e contextos produzem um capítulo incrível da história da humanidade que ficou ‘escondido’ por muitos anos e agora temos a oportunidade de ver tudo isso sendo recriado em tela de forma muito satisfatória e, mesmo que haja licença poética em filmes que são baseados em fatos reais, ele consegue abranger os conceitos e capturar a essência da compreensão do momento histórico relatado. É realmente agregador quando algum tipo de mídia te faz alusão ao passado para compreensão de um contexto de atualidade. E esse filme faz isso muito bem e com muito esmero.

Viola sempre impecável nas atuações.

 Uma guerreira de alta patente. A abordagem do longa começa por mostrar ‘Nanisca’ (Viola Davis), uma mulher forte, líder dessa elite de guerreiras, de posições firmes e que esconde um delicado e trágico passado. E aqui Viola entrega uma atuação condizente, pertinente e digna de uma vencedora do Oscar. A postura perfeccionista da personagem é perfeitamente bem delineada pela atriz, que mostra mais uma vez sua magnífica capacidade de mostrar seu talento em tela e a sua fictícia personagem ('Nanisca' foi criada para o filme) com sua densa história certamente reflete o que acontecia com muitas das mulheres naquele período. Junte-se a ela a atriz Lashana Lynch (que interpreta a personagem ‘Izogi’) e Thuso Mbedu (que interpreta a também magnífica ‘Nawi’) e então teremos um trio dramaticamente impecável em cena. O trabalho em conjunto e a química entre elas fazem a trama toda ser majestosa e muitíssimo bem escrita. Embora todo o elenco adicional seja muito bem ajustado, são elas três que conduzem praticamente toda a narrativa do longa. E o ‘timing’ juntamente com a execução são realmente primorosos.

Outra parte do excelente elenco.

 Direção de fotografia deslumbrante e finíssima. Outro ponto muito alto desse filme diz respeito ao quão impressionante e bem posicionada é a fotografia deste longa. Desde visuais naturais lindíssimos e de tirar o fôlego até cenas de batalhas absurdamente bem coreografadas, tudo aqui contribui para que a produção esteja em um altíssimo patamar de qualidade. Inclusive existe um determinado momento em que há uma intensa batalha que acontece durante o dia e a produção faz questão de escurecer, acinzentar a paleta de cores para dar o tom pesado que a cena necessita, produzindo, além de um belo efeito, uma carga ainda mais dramática ao evento. Chance de indicação ao Oscar no quesito ‘Direção de Fotografia’ quase que certa, ao meu ver.
 Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! Viola Davis e grande elenco simplesmente brilham em seus papéis em “A Mulher Rei”. O conjunto da obra é tão rico, bem exposto e com tamanha qualidade que vale muito assistir pelo contexto histórico real e pelas tremendas interpretações. Cheirinho de muitas indicações ao Oscar 2023 vindo por aí. Vale demais o ingresso!

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