Novo longa animado dos estúdios Ghibli mantém o alto padrão de
animes da empresa. Vamos a análise!
Baseado no livro Genzaburo
Yoshino de 1937, o longa conta a história de 'Mahito Maki', um jovem
que vive no Japão de 1943, durante a guerra do pacífico. E uma das
características mais marcantes do diretor Hayao Miyazaki é com
certeza a subjetividade de seus filmes. Por se tratar de uma
animação, a liberdade criativa que ele tem é usada a todo vapor
para suas produções. Pense em clássicos como "A viagem de
Chihiro" ou "Meu amigo Totoro" e vai enxergar o quanto
Miyazaki trabalha bem nesse tema. Todavia esse novo longa ele vai bem
além da subjetividade, beirando o surrealismo em algumas cenas e
mesclando real com imaginário de forma brilhante. O primeiro ato do
longa é totalmente palpável e mostra a história de 'Mahito' e suas
nuances. Já do segundo e até a metade do terceiro ato temos uma
mescla poderosa de imaginação, concepções de mundo e ideias que
só a arte desse estúdio poderia conceber. E vou destrinchar abaixo
de forma objetiva tudo o que impressiona no que diz respeito a parte
técnica do filme.
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O fofo protagonista. |
Traços animados deslumbrantes. Um ponto que difere esse estúdio dos outros é o fato dele não ter prazo para terminar uma obra. Enquanto as ideias surgirem, eles vão trabalhando de forma bem compassada até sair o produto que eles desejam. Para se ter uma ideia, cada minuto desenhado desse levou cerca de um mês para ser produzido. Isso mostra o cuidado em fazer algo com muita excelência sem pressão de investidores nem acionistas querendo dinheiro a curto prazo. E o resultado é um trabalho tão fino e elegante que, além da fluidez dos quadros de animação, algumas cenas parecem verdadeiras aquarelas pintadas a mão, demonstrando também o quão bela é a fotografia do filme. Não é de hoje que a empresa adotou essa abordagem. Mas que ela faz uma enorme diferença na qualidade de seus produtos, certamente faz.
Subjetividade e surrealismo. Muito embora o primeiro ato mostre muito bem o drama vivido pelo protagonista, é na fôrma do imaginário que ele reproduz as mais belas paisagens. Na interação com o que não é real, 'Mahito' faz descobertas interessantíssimas sobre as composições do mundo onde ele se encontra. Não quero dar 'spoilers' aqui, querido leitor. No entanto, não vá querendo de primeira entender o que o personagem principal está vivendo. Existe realmente um imaginário do diretor tão fértil que a obra pode possuir mais de uma possibilidade de explicação ou interpretação. E isso é o que torna os estúdios Ghibli um dos mais conceituados, respeitados e premiados do nosso tempo. Prender-se aos detalhes para muito depois 'ruminar' em várias hipóteses é realmente uma tarefa divertida e produtiva. Sim, você vai achar tudo bem esquisito e desconexo, caro leitor, mas posso te garantir que essa 'viagem' pelo mundo de 'Mahito' vai valer muito a pena. Até porque existe uma forte jornada emocional por trás de toda a trama. Mas ela se esconde em pequenos detalhes no longa. Algumas em forma de imagem, outras em forma de diálogo. Deixo o leitor a cargo de fazer suas próprias descobertas ao longo.
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A subjetividade é o cerne desse diretor. |
Enfim, vale a pena ver o filme? "RECOMENDADÍSSIMO"! "O
menino e a Garça" é a prova mais poderosa sobre até onde a
imaginação pode chegar. Muitas das obras desse diretor são
automaticamente clássicos atemporais, quer por sua arte em 2D, quer
por seus significados misteriosos ou sua forte veia subjetiva e
surrealista. Uma obra que traduz a arte como ponto central da
narrativa e não se preocupa muito em se explicar. É muito mais
contemplativa e menos heróica. Mas funciona extremamente bem dentro
do contexto do que Miyazaki quer nos passar. Vale demais o ingresso!
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