terça-feira, 29 de agosto de 2023

Filmes

BESOURO AZUL (Avaliação 4/5 - Muito Bom!)

 Novo longa da DC faz o dever de casa e é competente em trazer um personagem desconhecido para o grande público. Vamos a análise!
 Quando se fala em DC Comics, o que vem a sua mente? Provavelmente todos os membros principais da Liga da Justiça: Superman, Batman, Mulher-Maravilha, etc. Todavia há outros personagens interessantes no portfólio da empresa que ficam delimitados só aos quadrinhos (em alguns casos vemos um ou outro desses em animações), perdendo a oportunidade de explorá-los em outro tipo de mídia, como é o caso do cinema. Então temos nesse contexto "Besouro Azul", um personagem de origem latina que, após muitas idas e vindas, reviravoltas nos estúdios que pertencem a Warner, mudanças de comando e reestruturações, finalmente vê a luz do dia, deixando de ser um filme direto para 'streaming' e se tornando uma produção blockbuster de cinema. E diga-se de passagem, o orçamento proposto para o longa foi justo o suficiente para que ele entregasse uma trama coesa, um CGI bonito e personagens carismáticos. E mesmo sendo um herói desconhecido no geral, entrega um produto convincente e divertido. Veremos os porquês disso nos parágrafos abaixo.

Jaime Reyes e o escaravelho: dinâmica muito boa.

 Elenco charmoso e cativante. A dupla de protagonistas Xolo Mariduena (Jaime Reyes/Besouro Azul) e Bruna Marquezine (Jenny Kord) entregam, além da ótima química em cena, um ar extremamente envolvente por ser uma dupla de atores latinos e por funcionarem tão bem um com o outro. As interações e os diálogos não só entre eles, mas também com a familia de 'Jaime Reyes' são contagiantes, cômicos e de teor emocional amplamente perceptível. Condicionado certamente pelo 'calor humano' de todos os latino-americanos, os personagens citados entregam um pouco de nós como povo em tela. E eu gostei demais disso. Levar um pouco de partes de nossas culturas para as telas foi um grande acerto ao meu ver. Ponto para a escolha do elenco.
 Narrativa coerente e bem amarrada. Um dos grandes problemas de contar histórias de origem de heróis é se elas serão bem traduzidos em tela. A dinâmica praticamente sem limites dos quadrinhos faz com que o cinema ou outras mídias não suportem tanta carga de informação devido a vários fatores: custo de produção, o uso de CGI que encarece o longa, escolha de atores que realmente se identifiquem com os personagens e por aí vai. Todavia o que vemos aqui é um conjunto da obra muito bem ajustado, com um roteiro que, apesar dos diversos clichês como a famosa 'jornada do herói', por exemplo, foi capaz de transportar a história de forma simples e eficaz, aplicando as camadas sob medida - sejam elas emocionais, cômicas ou na construção dos personagens -, de forma concisa e sem perceptíveis equívocos. O corte final não danifica a história, não confunde o espectador e deixa claro como a dinâmica 'Jaime Reyes/Besouro Azul' funciona. E para mim isso é o que vale. Explicou sem complicar e sem ser enfadonho, com um 'cast' amável e facilmente aceito pelo público. Mais um ponto positivo aí também.

Bruna Marquezine e família 'Reyes': ótimos!

 CGI bonita e convincente. Como disse em parágrafos anteriores, efeitos especiais são um enorme problema na transição das HQ's para as telas. Isso porque demanda esforço, muito tempo de pós-produção, muita adequação em relação ao produto original e muito dinheiro também. Então focar no que é realmente importante pode ajudar sim a fazer um ótimo trabalho nesse quesito. E esse filme o fez com muita competência. Os efeitos são justos, bem elaborados e bem críveis no sentido criativo da coisa. É aquela máxima: orçamento gasto com cuidado e sendo usado onde realmente vai ser importante pro filme, pois a gente sabe que existem filmes de altíssimo orçamento que o CGI não condiz nem um pouco com o valor gasto. Ao menos nesse caso aqui a história foi outra e eu curti bastante o que me foi entregue.
 Enfim, vale a pena ver o filme? MUITO RECOMENDADO! "Besouro Azul" é o simples que ficou muito bem feito. Nada de grandes amarras. Nada de explicações mirabolantes. Apenas um filme com gostinho latino bem fechadinho e cheio de ótimas referências para todos nós. Xolo, Bruna e todo o elenco da família 'Reyes' divertem e são extremamente bem entrosados. Vá ver sem medo, querido leitor. Vale muito o ingresso!


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quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Filmes

OPPENHEIMER (Avaliação 5/5 - Excelente!)

 Com edição e montagem primorosos, novo filme de Christopher Nolan cumpre sua função histórica em uma bela obra-prima do cinema. Vamos a análise!
 Período histórico: epicentro da Segunda Guerra Mundial. Com receio de uma corrida armamentista a frente por parte de países como Alemanha e Rússia (antiga União Soviética), o governo e as forças armadas norte-americanas buscam uma solução para um grande impasse: vencer de forma efetiva a guerra e encerrar de vez o confronto. Surge então um físico, conterrâneo de Albert Einstein, que começa a fazer pesquisas sobre o mundo quântico e subatômico. Com isso, as forças armadas estadunidenses põem-no a frente da pesquisa mais desafiadora e difícil de sua vida: criar uma arma tão poderosa que pudesse trazer temor e medo aos adversários e eliminar pela raiz suas defesas. Essa é uma premissa leve e sutil sobre Julius Robert Oppenheimer, o homem que criou a arma mais mortal já vista pelo homem e mudou de uma vez por todas aquela parte da história da humanidade. Para sempre. Baseado nesse contexto, Nolan explora de maneira colossal a vida e os detalhes sobre este notável homem que teve papel crucial durante este evento de proporções infelizmente catastróficas – afinal de contas, nenhuma guerra no fim é boa para nenhum dos lados envolvidos. Mas, falando especificamente sobre o longa, é uma obra de arte digna de indicações ao Oscar, quer por sua ousadia em contar sobre a pessoa em questão, quanto sua sagacidade como diretor em produzir um filme tecnicamente perfeito e amplamente compreensível, mesmo com suas três horas de duração. Falaremos um pouco mais sobre a película logo abaixo.

Cillian Murphy: impecável.

 Edição e montagem excepcionais. Se existe algo que pode complicar a situação de qualquer filme que se proponha a executar com maestria seu roteiro elaborado, esse algo é certamente a montagem e edição de um filme. Toda a trama, enredo e narrativas podem ficar confusos ou não ser explicados corretamente sem o cuidado necessário nessa parte. O corte final das filmagens precisa ser coeso, para que não haja distanciamento entre o público e a obra. Porém a impressionante e competente equipe dessa área conseguiu um feito para poucos: elucidar a história de uma forma tão assertiva em uma montagem muito fina e riquíssima, onde cada quadro de tela é milimetricamente bem executado conseguindo dar ao público um panorama tanto geral (sobre o conflito) quanto sobre a vida pessoal de Oppenheimer. Difícil achar palavras para descrever o quão bem trabalhado foi. Só endosso aqui minhas palavras dizendo: está realmente primoroso esse aspecto da produção.
 Nolan dirige de forma excepcional o roteiro. Que esse diretor tem um currículo substancial, disso não temos a menor dúvida. E mesmo que seus filmes normalmente deixem um ‘mistério no ar’, é inegável sua excelente veia artística para a direção e produção de conteúdo audiovisual. Alguém lembra da maravilhosa e elogiadíssima trilogia do ‘Batman’ dele? Pois é. Mais uma vez ele acerta a mão da forma mais notável possível. O requinte dos diálogos bem postos e muito bem elaborados, o posicionamento dos personagens na trama, a soberba trilha sonora, o elenco estelar que foi contratado para este trabalho, as intensas reviravoltas na vida do físico e tudo o que diz respeito ao que uma boa mão na condução de um filme sabe fazer está lá. Não é exagero o que digo aqui e nem estou tentando ser parcial. Sua obra é digna e merecedora de todos os elogios possíveis, pois um filme que praticamente só tem diálogos durante toda sua execução conseguir te prender sem quebra de ritmo nem furos, só diretores de nível alto como ele, Spielberg ou Cameron conseguem. É história e arte em seu estado mais puro e inspirado. É impossível negar esse feito. Parabéns, Nolan!

Excelente escolha de elenco.

 Um elenco realmente de milhões. Cillian Murphy foi escalado para interpretar o protagonista central dessa história e sem medo de errar: se escolhessem outro, daria tudo errado. Cillian é impecável nos trejeitos e maneirismos de época, bem como na sua fina condução na forma de executar a problematização de seu personagem. Consegue ser genial e cirúrgico ao mesmo tempo, dando camadas de profundidade em momentos cruciais da narrativa, seja com gestos, seja com explicações, ou com expressões tão bem colocadas que se vê o quanto o ator se dedicou para a execução desse. Outro que está elevadíssimo em interpretação (o elenco conta com nomes gigantes da indústria como Matt Damon e Emily Blunt, entre também os que estão em ascensão como Rami Malek e Florence Pugh) é Robert Downey Jr. Ele interpreta ‘Lewis Strauss’, a época Secretário Interino de Comércio dos EUA e que tem profunda participação na história de Oppenheimer. Downey Jr. está, ao meu ver, em uma de suas melhores performances de sua carreira e arrisco dizer que há reais chances de não só ele, mas Cillian também serem indicados ao Oscar 2024. Podem anotar. Ambos estão excelentes em cena e em perfeita sintonia com seus papéis.

Robert Downey Jr. brilha em cena.

 O contraste colorido/preto e branco. Uma camada instigante e intrigante da produção desse longa é o jogo multicores que Nolan usa para contrastar cenas, trama, personagens e história. Por vezes você vê o longa em cor, outrora repentinamente a tela fica em preto e branco. Arrisco ao menos duas interpretações particulares sobre o uso dessa técnica: uma para dar enfoque que os acontecimentos naquele período foram mostrados em preto e branco, pois não havia naquela época aparelhos de TV em cor. Então, para dar o fino contraste juntamente com os figurinos de época, ele decide fazer esse jogo de cores. Agora, uma outra mais aprofundada, é a de que em diversos momentos ele põe o personagem de Downey Jr. em preto e branco e o de Cillian em cor, fazendo, sob meu olhar, uma clara alusão a ‘pessoas trabalhando juntas em lados opostos’ percebe? Isso fez bastante sentido para mim no final do filme, pois essa mescla é ainda mais bem definida e demonstrada. Mas sem ‘spoilers’ por aqui, caro leitor. Assista o filme e perceba a forma como isso é amplamente usado durante toda a projeção. Esse foi o meu entendimento sobre. Deixo a seu cargo, querido leitor, sua interpretação também sobre esse curioso adendo no longa.
 Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! “Oppenheimer” é uma obra de arte em formato audiovisual que vislumbra a dinâmica da Segunda Guerra, porém do lado de dentro dela através de um homem no meio da situação toda. O que vemos por vezes em documentários é nomes dos países envolvidos e suas próprias convicções. Cada um do seu lado. Nolan trouxe além. Mostrou o horror por dentro, sob o olhar devastador daquele que criou a maior corrida armamentista da história da humanidade, e que perdura até os dias de hoje, infelizmente. O Oscar vem. Só isso que tenho a dizer. Se tornou um dos três melhores filmes que já vi em toda minha vida. Vale demais seu ingresso!

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