quarta-feira, 31 de agosto de 2022

Filmes

NÃO! NÃO OLHE! (Avaliação 4/5 - Muito bom!)

 Com um roteiro bem intrigante, novo longa do diretor Jordan Peele atesta sua capacidade crítica e analítica sobre suas obras. Vamos a análise!
 O diretor de ‘Corra!’ e ‘Nós’ retorna mais uma vez ao trabalho com esta nova obra que pode ser definida como um texto com várias nuances e interpretações diferenciadas. A princípio o filme pode parecer meio confuso (e de certa forma ele soa desse jeito mesmo), porém a principal ideia aqui é trazer ao espectador a sua visão do entendimento e múltiplas conclusões acerca do assunto abordado em tela. Difícil descrever o foco central do longa sem dar possíveis ‘spoilers’, mas tentarei de alguma forma propor muito mais uma reflexão sobre o meu entendimento do que falar sobre a história em si. Vamos destrinchar isso nos parágrafos abaixo.
 Uma visão sutil sobre o preconceito na indústria. Peele em suas produções sempre trata desse tema com muito cuidado, sempre delineando sua abordagem de forma a não se tornar algo ideológico. Sua transposição para as telas sobre o assunto é bem mais focada na concepção de mundo das pessoas. Aqui neste vemos logo no primeiro ato sutilezas que nos levam a crer e ver como o mundo das artes tem sim ainda uma forte relação com o abismo racial proliferado na sociedade vigente. O protagonista – interpretado pelo vencedor do Oscar 2021 e ótimo ator Daniel Kaluuya – é filho de um fazendeiro de uma pacata cidade que cuida de cavalos de raça. Com um enorme rancho, ele vê sua vida mudar quando misteriosamente seu pai falece em condições muito estranhas por uma ‘chuva’ não identificada por eles. E a partir daí ele (o protagonista) vai tentar fazer o trabalho que o pai fazia há anos, que era o de alugar cavalos para cenas de filmes em diversos formatos. Nesse ponto há vários indícios da formatação preconceituosa de uma parcela da sociedade, principalmente todos os que trabalham no meio artístico. São olhares e falas sutis que descortinam e elucidam algumas discussões sobre o assunto. Peele faz isso nos outros filmes e aqui não é muito diferente, embora em uma escala, em minha humilde opinião, um pouco menor do que os outros.

Ótimos protagonistas e bom coadjuvante!

 Querer aparecer a todo custo. Peele traz a luz um posicionamento quanto a sociedade da comunicação nos dias de hoje. E esse apelo tem como base a trama que a história aborda. Não quero dar ‘spoilers’ aqui, mas há uma severa crítica sobre como o advento da internet na forma de ganhar dinheiro, ‘views’ e ‘status’ sobe a cabeça das pessoas a ponto de arriscarem suas vidas pelo desconhecido. É sabido que muitas pessoas procuram fama e dinheiro com todo tipo de rede social. Mas até que ponto isso é viável? Quais esforços valem a pena para isso? Como no filme, uns sacrificam até suas vidas em prol do sensacionalismo (quem ver o filme vai entender o que estou ponderando aqui). Mesmo em meio a uma bizarra ameaça iminente, o que vale hoje é o preço que se paga por ela, mesmo que se perca a vida (literal ou não) e a paz por isso. Isso reflete em muitos casos de pessoas que se arriscaram de forma pesada e algumas que até faleceram em frente as câmeras por ir longe demais em suas perigosas performances.
 Há todo um entorno de intimidação e mistério nesse filme. Daniel Kaluuya interpreta um personagem simples, autocontido e de certa forma solitário, mesmo tendo uma irmã (interpretada pela atriz Keke Palmer) que é basicamente o oposto dele. E é nessa dualidade que vai se delinear todos os textos e caminhos do roteiro, pois a ideia aqui não é eliminar exatamente a ameaça a princípio, mas como manipulá-la para que se torne um evento lucrativo. E mesmo eu tendo toda essa percepção do formato do longa, ainda assim existem conexões muito peculiares dentro da trama que parecem soar dissonantes com o todo, mas que são delineadores de comportamento de alguns outros personagens coadjuvantes. E existe uma verdade iminente na produção que destaca isso que digo, pois o sensacionalismo atrai multidões mesmo sem saber o prejuízo que isso pode causar a elas. Em um determinado ponto do terceiro ato isso é reproduzido de forma assustadora e ousada.

Cena do longa. Algo estranho no ar!

 A produção tem uma paleta de cores em tons mais escuros (inclusive com filmagens a noite) e isso denota um pouco do ar misterioso que o filme propõe, juntamente com o tom autocontido do protagonista. A fotografia do filme é bonita e muito bem posicionada, muitas da vezes colocando o espectador como se estivesse olhando para a ameaça iminente, fazendo até certo contraponto com o título do filme. O trabalho de produção e direção de fotografia é competente e retrata com muito esmero o que o diretor entrega sobre sua proposta para a projeção. Ponto muito positivo isso também!
 Enfim, vale a pena ver o filme? MUITO RECOMENDADO! Jordan Peele imprime mais uma vez suas ‘digitais’ em “Não! Não olhe!”, como uma obra autoral e pensada para ser questionada pelo público em geral. É para ir com a mente aberta para entender o conceito do filme e o que ele entrega de visão para cada pessoa de uma forma geral. Esses foram os meus entendimentos sobre alguns assuntos que a produção aborda e acho interessante esse tipo de filme, que abre um diálogo sobre alguns pontos de vista diferenciados. Daniel Kaluuya faz um ótimo contraponto em seu personagem com a atriz Keke Palmer e alguns coadjuvantes também trazem elementos surpresa ao longo. Um filme mais uma vez bem dirigido, bem trabalhado e bem elaborado pelo diretor. Vale muito o ingresso!

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