O TELEFONE PRETO (4,5/5 - Excelente!)
Thriller de suspense e terror dirigido por Scott Derickson é tenso
e traz nuances interessantes dentro da trama sobre seus personagens.
Vamos a análise!
Adicionar camadas que aprofundem histórias
contadas em filmes sempre torna a produção mais notável e bem
construída. Mas e quando a direção decide idealizar algo além do
que é objetivo em sua trama? É isso que acontece neste longa que
consegue gerar no espectador um misto de suspense, certa agonia, uma
boa dose tanto do terror tradicional quanto do terror psicológico
(porque sim, ao meu ver, são 2 categorias bem diferentes e com
tonalidades bem distintas uma da outra) e ainda entrelaçando em tudo
isso uma boa porção de subjetividade no roteiro. E é isso que vamos
destrinchar abaixo nessa bem construída película e como a relação entre
tais elementos se encontram em seu fim.
![]() |
Mason Thames e Madeleine McGraw: ótimos! |
Mas para começar a falar sobre isso, é preciso perceber o quão boa e convincente foram as atuações tanto do protagonista quanto do
antagonista dentro desse contexto, pois eles se misturam intensamente
dentro desse assunto. Mason Thames, que interpreta o personagem
‘Finney’ é um garoto no início de sua adolescência lá pelos
anos de 1978. Porém uma série de casos estranhos de desaparecimento
de crianças e adolescentes começa a transbordar em uma pequena
cidade onde vivem. E quando ele se torna a próxima vítima desses
eventos, ele vai travar uma batalha gigante pela sua vida e pensar em
como vai escapar daquele lugar e da prisão que lhe foi imposta. E o
que faz menção a esse ator mirim é o quanto ele, além de ser uma
graça (a relação dele com sua irmã - interpretada pela também ótima Madeleine McGraw - é ao mesmo tempo fofa e
profunda), transmite a enorme carga dramática e o misto de
sentimentos incômodos que a situação traumática em que ele está
reproduz. Você consegue sentir a dor e a intensa angustia do que ele
está passando. E para muito além disso, a trama vai ficando tão
desconcertante e tão desenfreada que o tal do telefone preto (que dá
título ao filme e foi mostrado nos trailers) tem papel extremamente
relevante na construção de ‘Finney’. Não vou dar ‘spoilers’
aqui, mas o transtorno psicológico que ele enfrenta – muito bem
interpretado por ele – vai mexer com toda sua estrutura emocional e
remontar sobre ele todo o mais ardil instinto de sobrevivência que
um ser humano pode ter. Pode crer, meu caro leitor, a construção do
protagonista e sua atuação são espetaculares nesse sentido.
De outra maneira, Ethan Hawke, que vive o antagonista da trama, é
toda a carga subjetiva que o filme oferece e que mencionei um pouco
mais acima. Com uma interpretação peculiar, seu personagem é um
misto de pura psicopatia, frieza e, ao mesmo tempo, um homem envolto
de mistérios, principalmente por conta do formato repetitivo de seus
atos. Sem ‘spoilers’ aqui também, quero só comentar que sua
brilhante e assustadora atuação traz a tona questionamentos do
tipo: o que leva um homem adulto a cometer tais atos? Sabe-se, pela
psicologia, que a psicopatia é uma ausência total de sentimentos, e
as pessoas com esse distúrbio não demonstram nenhuma empatia pelo
próximo. E como o filme não revela sua história pregressa, a
camada sutil de subjetividade se encontra justamente nessa vertente:
que trauma ou que situação em seu passado acendeu a chama desse
distúrbio? Houve algum gatilho ou ele já manifestava esse lado
quando era pequeno - algo que a psicologia também estuda sobre.
Apesar de eu achar conveniente saber sobre sua vida antes (um
‘flashback’ por exemplo seria bem vindo), consigo entender a
intenção do diretor em manter esse mistério no ar, para justamente
dar o tom argumentativo e pensativo sobre o assunto. E são
exatamente esses contrapontos entre o protagonista e o antagonista
que fazem o filme ser tão imersivo e relevante. São atuações
impecáveis com uma interação entre eles que funciona de uma forma
intensa e, de certa forma, caótica, com um texto e fotografia que
conseguem transmitir em um dado momento, ternura (como já disse na
relação dele com sua irmã) e terror (com o antagonista já em
cena). É uma mistura bem dosada e muito bem trabalhada por toda a
equipe de produção do longa.
![]() |
Ethan Hawke: brilhante atuação! |
Toda a ambientação em que o longa se passa (fim dos anos 1970) é
bem elaborada e muito caprichada. Desde as lojas, figurinos e até os
carros usados no filme, tudo está de acordo com a proposta que a
película oferece. E ele abre pauta, até certo ponto, para outras
discussões, como o ‘bulling’ de modo violento (que acontecia com
muito mais frequência outrora e tenta ser combatido hoje), questões
relacionadas a alcoolismo e o quanto isso afeta o seio da família, entre outras coisas. E
embora haja abordagem sobre esses assuntos em pequenas subtramas, o
principal foco dele é a trama principal correspondente ao
protagonista e o ‘serial killer’ em questão.
Além disso
tudo que mencionei, o filme traz uma curiosa perspectiva sobre o tema
‘religião’. Sem citar nomes, um dos personagens da trama tem um
certo vínculo com Deus que, por sua vez, tem sonhos que são
verdadeiras revelações sobre diversos acontecimentos. E isso tem
uma dúbia percepção sobre o assunto: uma sobre a compreensão do
próprio diretor a respeito de Deus e suas ações e a outra é como
o envolvimento desse personagem com Deus traz luz aos questionamentos
que muitos fazem: se de fato Ele existe ou não. Mesmo que você,
caro leitor desse texto não creia (e eu respeito isso, porém
gostaria de que respeitassem o fato de eu crer profundamente), o
discorrer desse tema no filme tem certa relevância – até porque
isso é um dos “fios condutores” da trama – e o enfoque sobre o
assunto aqui se torna bastante pertinente por conta disso.
Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! “O telefone
preto” traz o diretor Scott Derickson em uma excelente empreitada,
que mescla sentimentos de forma magistral em tela e busca trazer a
luz diversos questionamentos: até onde vai a maldade humana e até
onde ou em que situações ganhamos força e coragem para
enfrentá-las? A interpretação do ator mirim Mason Thames e de
Ethan Hawke são pontos chave para produção dessas perguntas. Um
filme realmente bem elaborado e que certamente vale o ingresso, a
diversão e o debate. Gostei muito!
Gostei bastante da analise
ResponderExcluirObrigado!
Excluir