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Cartaz com mensagem bem enigmática! ^^ |
Valendo-se talvez da clássica ideia da dualidade humana – em que temos inclinações para o bem e para o mal –, a proposta do diretor Jordan Pelee nos mostra uma família que, como em sua maioria, sai para curtir férias em sua casa de praia e de repente se depara com algo inesperado: versões macabras de si mesmos para atormentá-los. Mas, e se o mistério por dentro disso for ainda mais profundo? É com essa premissa que o longa se desenrola e produz no espectador a sensação clara de que há versões de nós mesmos que não conhecemos.
Ainda falando do roteiro, a percepção do diretor em ‘criar uma versão do mal’ de si mesmo, ao meu ver, representa essa luta de instintos que temos dentro de nós. Só que separadas por corpos de uma mesma pessoa. E a questão que fica no ar o filme inteiro – que tem um final bem surpreendente – é: quem será que vence essa batalha interior?
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Winston Duke: comicidade em meio a tensão! ;) |
Existem vários pontos de crítica social
embutidos nessa trama, como as diferenças de contexto social – a família ‘branca’
sempre possui mais recursos – e uma assertiva crítica sobre a segregação racial
que existe, não só nos EUA, como em toda parte do mundo (visto como, por
exemplo, os habitantes da cidade de Beira, em Moçambique, estão completamente
desolados após forte ciclone ter passado por aquele local e a forma com que as
autoridades internacionais lidam com aquela comunidade. Em países
predominantemente ‘brancos’, financeiramente saudáveis e com interesses
políticos, o tratamento é diferente. Embora uma coisa não tenha ligação direta
com a outra, pois o filme foi feito muito antes do ocorrido, elas acabam se
completando pelo contexto do filme). Além de tudo isso, uma intrigante passagem
bíblica mostrada durante todo o filme produz um clima apocalíptico
interessante, uma vez que o texto fala sobre um mal que seria impossível de
escapar. Essa complexa ideia de que ‘somos maus e responsáveis pela nossa
própria destruição’, representados nos ‘clones ruins’, digamos assim, de nós
mesmos, mexe de certa forma com o imaginário humano e produz realmente a ideia
crítica que sim, nosso ‘eu interior’ maligno e corrompido tem sido responsável
por todos os danos causados a própria humanidade e que em algum momento, vamos
pagar pelos erros cometidos. É uma proposta bem rica de conteúdo e debate
produzida por esse diretor/roteirista. ^^
Lupita Niong’o e Winston Duke formam um
par que funciona muito bem e percebe-se uma certa afinidade, pelo fato de serem
amigos na vida real, dentro da conjuntura da trama. Enquanto a sua personagem
tem um passado complexo e um psicológico abalado, ele por sua vez é alegre e
acaba se tornando o alívio cômico da película. E essa dose de tensão e
comicidade trabalha paralelamente com toda a história e, embora não tenham
muitos ‘jump scare’, tudo flui bem dentro do contexto narrativo, onde cada
detalhe, por menor que seja, tem relevância ímpar no todo. Eu mesmo queria ver
de novo para atentar a alguns detalhes ‘perdidos’ e quem sabe abrir algum outro
viés interpretativo . ^^
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Lupita e as crianças Evan Alex e Shahadi Wright Joseph ^^ |
A trilha sonora deste tem meu destaque
uma vez que consegue ambientar todo o clima de inquietude e aflição que o longa
oferece. E mesmo nos momentos descontraídos contextualiza os personagens e cria
algumas ‘camadas’ a mais nos mesmos, identificando também o lado social de cada
um deles. O que é formidável quando a trilha sonora acompanha tanto a trama
quanto seus personagens, influenciando na personalidade dos mesmos. Muito bom!
^^
Enfim, vale a pena ver o filme? MUITO
RECOMENDADO! Com um final intrigante e amplamente aberto a questionamentos, “Nós”
é uma ruptura do convencional do gênero e abre um belo debate sobre quem nós
realmente somos, sobre nossos conceitos e sobre a humanidade num contexto
geral. Uma obra instigante, altamente filosófica e que certamente vale seu
ingresso e sua ida ao cinema. Tem grandes chances de aparecer em alguma
categoria do Oscar ano que vem pela sua complexidade e sonoridade. Boa diversão!
;)
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