POBRES CRIATURAS (Avaliação 5/5 - Excelente!)
Longa dirigido por Yorgos Lanthimos tem narrativa agressiva que
choca, mas muito pertinente nos dias de hoje. Vamos a análise!
A dicotomia humana sugere que bem e mal habitam dentro de nós ao
mesmo tempo. Sabemos disso pois temos regras na sociedade e aquelas
coisas que fazemos que não cumprem tais preceitos, são repudiados
ou criamos em nossa consciência um sentimento de 'culpa' pela nossa
ignorância (isso de uma maneira geral, pois há casos de pessoas que não
sentem nenhum remorso pelo que fazem). Mas sim, falaremos das pessoas
que fazem parte da dita 'normalidade'. Esse filme tem por objetivo
abordar a inocência humana diante da sujeira que vivemos enquanto
sociedade. Ele tem uma realidade distópica que recria certos padrões
como se fossem verdades absolutas, mas ao mesmo tempo os destrói
mostrando que certas ações são apenas demonstrações de pessoas
que se acham tão cheia de pudor, mas se escondem em suas vestes
elegantes e seus conceitos hipócritas de 'elegância'. Os
personagens de Emma Stone a Mark Ruffalo trazem tão bem essa
dualidade que chegam a ser extremos opostos em um mundo tão
desigual. E destrinchar essa magnífica obra aqui é uma tarefa
ampla, pois suas nuances são tão profundas que pretendo trazer
talvez e somente algumas delas por aqui.
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Emma Stone: merecidamente premiada. |
Mundo idealista, realidades bruscas. Uma das principais
características dessa produção é ser extremamente escrachada e
despudorada propositalmente para mostrar ao espectador o tom das
realidades que chocam. Tudo no filme tem sentido quando percebemos
isso. Ele toca em feridas como ganância, corrupção, abismo social,
arrogância, convenções humanas que na prática não servem para
nada, a vergonha que o ser humano pode chegar em troca de dinheiro, a
'prisão' do machismo versus a 'prisão' do feminismo, entre uma
série de outros pontos mesclados brilhantemente pelo diretor que
fazem a gente perceber que o experimento no primeiro ato do filme
(sem 'spoilers' aqui) é na verdade uma forma de mostrar o que
acontece quando você 'cresce' nessa sociedade da qual vivemos e no
que você pode se transformar se não observar o mínimo de cuidados
com suas escolhas e caminhos que segue. É uma verdadeira e acirrada
crítica a hipocrisia humana sem medo de mexer no que há de mais
ardiloso dentro do ser. E o diretor faz isso da forma mais seca e
visceral, sem rodeios.
Atuações brilhantes. Emma Stone já
coleciona muitos prêmios por suas atuações (inclusive já ganhou
três prêmios com esse longa e está concorrendo ao Oscar 2024 na
categoria "Melhor atriz"), porém ela se doa para esse
papel de forma insana. As nuances, os aprendizados, as transformações
quando ela passa a conhecer o 'mundo' - demonstrado fortemente pelo
contraste de cores que vai mudando à medida que o filme se desenrola
-, tudo é muito grandioso em suas mãos. Ela busca retratar exatamente os
passos que seu papel se propõe. E o faz com maestria. Mark Ruffalo
também está tão impecável como um 'canastrão galante' que seus
momentos em tela são brilhantes. A desconstrução que ele faz do
seu personagem é algo de impressionar (não à toa há pouco tempo
ganhou uma estrela na "Calçada da fama". Merecido.),
tamanha a profundidade de sua performance. Ambos contracenando juntos
formam uma dualidade irretocável, que é justamente onde se dirige
toda a crítica do longa. Algo digno de Oscar mesmo.
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Mark Ruffalo: performance irretocável. |
Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! "Pobres
criaturas" é uma crítica rasgada e sem cortes sobre a
sociedade com um todo. Faz você sair da sessão com largo sentimento
de 'peso' por narrar de forma tão abrupta o caos social que vivemos. Uma obra firme
para realmente ir ver de mente muito aberta para compreender tudo o
que o filme quer passar. Espetacular. Vale demais o ingresso!