NETFLIX: A FAMÍLIA MITCHELL E A REVOLTA DAS MÁQUINAS (Avaliação 4,5/5 - Excelente!)
Longa produzido pela Sony Pictures Animation e lançado em 30 de Abril na Netflix é, além de divertido, cativante e convence pelo todo.
Vamos a análise!
Filmes animados sobre famílias heroicas
certamente você já deve ter visto alguns. Mas, e quando é uma
família totalmente sem jeito e desengonçada? Assim são os
‘Mitchells’. Pessoas completamente diferentes convivendo em um
mesmo lugar tendo que lidar com o que podemos chamar de o ‘apocalipse
das máquinas’. Mas há algo de muito valioso nesse longa e a
mensagem que ele passa é interessante e chamativa. Vejamos o porquê
em partes abaixo.
Em uma primeira vertente de análise, falando
sobre a família que protagoniza o filme (afinal, são 2 camadas que
compõem a trama, uma em escala global e outra mais intimista, dentro
desse seio familiar), podemos categoricamente dizer que há várias
situações facilmente identificáveis por vários tipos de público:
o pai ‘a moda antiga’, que tem dificuldades em lidar com
tecnologia e se incomoda com todos usando dispositivos sem parar. A
mãe, mediadora da família, lidando com os impasses que pai e filha
adolescente tem de travar por serem de épocas diferentes
basicamente. A dita filha adolescente, cujos sonhos e anseios são
incompreendidos pelo pai (e por isso as discordâncias). E o
caçulinha da casa, com sua personalidade em formação. E tudo isso
chama a atenção justamente pelo rico desenvolvimento desses
personagens. Antes incompreendidos entre eles, chamam para si as
responsabilidades quando tem de enfrentar um inimigo em comum. E
mostram a necessidade de ter de aprender a lidar com as diferenças
de cada um com respeito e amor. E essa sub-trama, por assim dizer,
revela que, como seres diferentes uns dos outros, devemos sempre
procurar equilíbrio no respeito mútuo e na compreensão alheia,
pois nunca sabemos a hora em que realmente precisaremos uns dos
outros. Achei isso muito bem retratado no longa e traz justamente
essa reflexão sobre família: pessoas muito diferentes e imperfeitas
convivendo juntas que tem de somar esforços para se respeitarem e se
olharem como indivíduos únicos. E quando isso não acontece, as
rupturas familiares acabam ganhando força e desfazendo vários
desses núcleos. Ótima contextualização sobre questões tão
delicadas e, ao mesmo tempo, tão pontuais e importantes. ;)
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Família complicada e engraçada. rsrs |
Tratando agora da segunda vertente que, na verdade, compõe a trama
principal. Somos tão obcecados por tecnologia nos dias atuais que
nem nos damos conta que por vezes, esquecemos do mundo exterior e nos
ligamos profundamente aos dispositivos. Só isso já traz uma bela
reflexão sobre como anda nosso comportamento hoje em dia. Esquecer
um celular, perder ou coisas do tipo nos deixam certamente de ‘cabelo
em pé’. A verdade é que estamos ‘presos’ de certa forma a um
sistema que ao mesmo tempo que nos conecta, nos limita. E isso pode
ser visto claramente quando da revolta das máquinas, as pessoas
simplesmente ficam desesperadas por perderem o ‘wi-fi’ (sinal da
rede ou internet, como queiram). Aliás, é aqui que a trama
principal brilha: e se por acaso a sua máquina, por se sentir inútil
ou obsoleta, resolver se voltar contra você? Ou talvez, quem sabe,
contra a humanidade? Um dispositivo inteligente de conversação
(tipo ‘alexa’, só que em forma de aplicativo de celular) se
sentiu afrontado e desiludido por ser ‘trocado’ por outro mais
robusto e em forma de robô, que decide usar sua inteligência
artificial para controlar esses novos e assim, destruir a humanidade
por ter sido sumariamente ‘abandonado’. E é a partir daí que se
deslancham cenas das mais variadas e cômicas possíveis, onde atos
de heroísmo são misturados com cenas pra lá de engraçadas,
insanas e surreais de ação e mescladas com o desenvolvimento da
sub-trama tratada no parágrafo anterior. O resultado disso é uma
animação competente, divertida - com vários clichês, obviamente
-, mas que funciona como ‘alívio’ e ‘alerta’ para uma
sociedade de consumo que só vive em seus dias conectada. Uma maneira
leve e interessante de repensarmos para onde nossas ações e
escolhas podem estar nos levando, ou seja, para uma desconexão total
do mundo a nossa volta. Muito bem sacada essa narrativa!
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E se as máquinas se voltassem contra nós? |
Criada e concebida pela mesma equipe que trabalhou em “Homem-Aranha
no Aranhaverso”, pode-se perceber a qualidade e a fluidez da
animação no traço característico que deu o Oscar de ‘Melhor
Animação’ de 2019 ao ‘Cabeça de teia’. Muito rica, detalhada
e colorida, ela encanta justamente por mesclar ações não só com
palavras, mas visuais, produzindo uma maior ênfase em determinadas
cenas, o que faz destacar e dar uma maior interação da situação
ocorrida no momento. Acho o estilo artístico desse conceito muito
bacana e, se bem utilizado, pode elevar e muito a evolução dos
acontecimentos narrados como um todo. Parabéns a equipe de animação!
:)
Enfim, vale a pena ver o filme? RECOMENDADÍSSIMO! A mistura
conceituando os atuais vícios de tecnologia com dilemas familiares
são o que compõem essa deliciosa e qualificada combinação em
forma de sétima arte. “A família Mitchell e a revolta das
máquinas” traz todas essas questões com leveza e coerência para
as telas e tanto encanta quanto satisfaz pela forma ágil e, ao mesmo
tempo, divertida com a qual aborda tais assuntos. Se curtes animação,
podes assistir que é certeira para você, caro leitor. Vale demais
dar uma conferida! ;D