quarta-feira, 13 de janeiro de 2021

Filmes

 DISNEY PLUS: SOUL (Avaliação 4/5 - Muito bom!)

 Uma animação focada quase que inteiramente para adultos. É assim que ‘Soul’ pode ser definido. Vamos a análise!
 O que você valoriza em vida? Dinheiro, sonhos, carreira, sucesso? A Disney coloca essas e outras questões tão ou mais profundas sobre a vida e seus valores nesta que é para mim, uma das mais controversas e inteligentes animações que o estúdio já produziu. Controversa porque ela, diferentemente de outras que a Pixar já elaborou, é totalmente voltada para adultos. Sim, você não leu errado. Nada, em nenhum momento do rebuscado roteiro trabalha em prol de se mostrar algo que remeta ao público infantil. Inclusive trata o tema ‘vida pós morte’ com elucidações um tanto quanto pesadas, que não levam nenhuma lucidez de entendimento aos pequenos (diferentemente, por exemplo, da animação ‘Divertidamente’, onde os sentimentos são retratados de forma lúdica e extremamente eficaz). E por não ter essa conexão com as crianças, em alguns momentos a trama recai em certas camadas tão delicadas sobre assuntos da vida, que até a habitual graça e descontração que as histórias costumam ter caem em desuso nesse. Mas o que ela produz de forma inteligente para o espectador? É isso que veremos mais adiante.

A paixão pela música!

 Para o espectador adulto, que vai conseguir compreender melhor os temas abordados na animação e separá-los da forma mais conveniente possível, vemos o protagonista ‘Joe’ obcecado pelo seu desejo de se tornar um grande músico, dado o conhecimento e o domínio que ele tem com os instrumentos. Mas uma fatalidade vai colocar ele fora do jogo da vida e deixá-lo a mercê de sua própria sorte, literalmente. E nessas idas e vindas com a morte, ele começa a perceber qual o real sentido de sua vida e seu propósito aqui nessa terra. O ‘main plot’ dessa animação aborda questões familiares profundas e questionamentos inquietantes sobre buscar o seu sonho ou viver com os pés no chão. Isso porque ‘Joe’ se inspira muito fortemente em seu pai, já falecido, que o fez criar o gosto pela música. Porém, sua mãe, ainda viva, se contrapõe a esse sonho sob a alegação de que o pai de ‘Joe’ nunca alavancou uma carreira de sucesso na música. E nota-se claramente o denso arco que vai se formando de frustrações, decepções e contradições pelo lado amargo que a vida pode trazer quando um sonho idealizado não se concretiza. E essa abordagem profunda vai ganhando força no decorrer da trama, principalmente quando ele encontra a personagem ‘22’ (é esse o ‘nome’ dela mesmo rs) e tem de burlar o ‘sistema’ vida/morte para provar a essa que a vida vale a pena. É aí que animação cria seus meios de se sustentar como uma história mais voltada para os adultos, pois vai abordar também questões psicológicas profundas sobre o medo da vida, de encarar seu destino e de como entender seu espaço nesse mundo. Faz algumas provocações filosóficas sobre ansiedade e depressão e demonstra, em seu fim, que o mais importante da vida é viver, não importando os traumas do passado ou o quanto você esteja empenhado em realizar seus sonhos. O que a animação claramente demonstra é o valor de viver e o valor que a sua vida tem. E nisso ela se foca de forma extremamente inteligente e cuidadosa, apesar dos carregados temas que ela contém.

Onde tudo começou...

 Com tudo isso, fica novamente o expressivo questionamento lá do início desse texto: todos os valores que você carrega durante toda sua vida, pelos seus pais e pelo meio, são os que vão definir toda sua estrutura psicossocial em seu futuro. E são essas experiências com a vida que determinarão o proveito que vais tirar dela no seu futuro. A animação faz essa abordagem de forma segura quando mostra que o pai teve forte influência na carreira que o filho queria seguir. E assim são nossas escolhas de vida. Pautadas nas nossas experiências e no quanto elas se tornam interessantes para nós como seres humanos. E sendo elas possíveis ou não, entender que as frustações e/ou alegrias fazem parte de sua história é peça fundamental para se manter de pé, não desistir e prosseguir. Esse é o núcleo mais importante de toda a narrativa de ‘Soul’.
 Enfim, vale a pena ver o filme? MUITO RECOMENDADO! Por todas essa razões citadas na abordagem desse texto, ‘Soul’ se figura como uma ótima e profunda animação adulta para refletir, pensar e se questionar. Porém, por um outro lado todos os temas que ela aborda não são tão fáceis de serem diluídos pelas crianças, o que não me faz recomendar de forma mais abrangente esse para os pequeninos. É realmente isso, meu caro leitor. Recomendado sim, mas com essas ressalvas importantes. Vale muito conferir!

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