terça-feira, 15 de dezembro de 2020

Filmes

 TROLLS 2 (Avaliação 4/5 - Muito bom!)

 Animação ‘Trolls’ fala sobre música de forma discontraída mas revela uma crítica ao ritmo ‘pop’ por transcender a linha de seus próprios limites. Vamos a análise!
 Uma história contada sob a perspectiva fofa de pequenos seres que vivem em harmonia com seus ritmos. Um pretexto para revelar todo um pano de fundo crítico-narrativo sobre a indústria global da música e seus efeitos na mente e no cotidiano das pessoas. Um rorteiro genial escrito sob a forma de uma colorida e alegre trama. É assim que consigo enxergar ‘Trolls 2’. Bem além das entrelinhas, o filme faz muitas alusões criativas a esse vasto contexto musical global e deixa explícito as diversas nuances e peculiaridades que cada ritmo possui.
 A impressão logo no início é a de que, no mundo dos ‘trolls’, o único e legítimo ritmo que existe para eles é o ‘pop’. Até descobrirem que eles nunca estiveram sozinhos. E isso traz uma percepção muito bacana de como a música é segmentada e cada gênero musical tem suas ‘tribos’ bem definidas, pois eles logo descobrem que existem outros ‘trolls’ de estilos diversificados e mais ainda, que a rainha do Rock ‘Barb’ está invadindo os outros mundos para unificar todos os segmentos e transformar tudo em um unico ritmo. Daí para para pensar: a subejtividade do roteiro reproduz exatamente o mundo musical como ele mesmo se vê: fragmentado e tematizado cada qual para o seu público. E a produtiva mescla de fatores que transbordam na animação para dar ênfase as críticas são contundentes e palpáveis, tornando seu contexto ainda mais rico e pertinente.

Os protagonistas!

 Bem ali pro fim dos anos cinquenta, o ‘pop’ surgiu e ganhou muita força desde então. E ao longo desses anos todos para cá, o estilo musical foi ganhando formas padronizadas que muito se assemelham em tons e acordes, o que deixa, por exemplo, fãs do Rock e de sua estrutura musical e artística um tanto quanto mais harmoniosa e elaborada contrariados por ver algo que eles consideram ‘musicalmente pobre’ fazer tanto sucesso. E é nesse contexto que animação brilha e faz surgir o tom da crítica, pois em todo tempo a ‘antagonista’ (entre aspas, pois os objetivos dela não são exatamente ruins, visto que sua ‘vilania’ é composta pela ótica orgulhosa de seu olhar) roqueira enfatiza o pop como ‘sem graça’ e ‘grudento’ (em algumas partes da animação ela diz claramente isso), afirmando não ser um estilo realmente bem produzido ou elaborado. E esse produtivo embate é o que faz tudo ter sentido. Se por sua vez o público que de fato curte Rock detesta musica Pop (e eu conheço pessoas assim), quem se agrada da leveza desse ritmo acaba abraçando um pouco de tudo entende? E é exatamente assim que a narrativa conduz a história, permeando sua trama com vários outros ritmos musicais (Country, Funk,  Dance, Erudito, Hip-Hop e até ritmos mais recentes, como K-pop e afins), levando a personagem que é rainha do Pop ‘Poppy’ a querer transcender barreiras e procurar respeitar a diversidade que os estilos musicais reproduzem. Em contrapartida, para a rainha do Rock ‘Barb’, nenhum som é tão relevante quanto seu estilo musical. Percebe aí a grande sacada da animação? Particularmente achei isso genial, tanto na condução quanto na execução do roteiro, pois tanto o segundo ato quanto o desfecho trabalham incessantemente para que essas diferenças sejam exploradas, enriquecendo o conteúdo da animação e a tornando em um belo 'mix' de realidades, diluídas em cada uma das personagens apresentadas na trama, com seus estilos, suas gírias, suas interpretações sobre cada um dos ritmos. Só nesse aspecto a animação já ganhou meu respeito. 

Poppy e Barb!


 Um outro detalhe que me chamou muito a atenção foi o estilo da CGI usado. Lembrando muito jogos como ‘Little Big Planet’ (quem conhecer o game vai se ligar) a textura dos cenários remete muito a esse estilo gráfico: mais cartunesco, porém com uma arte a sua volta lembrando coisas reais (como itens costurados a mão, tais como pelúcias e almofadas). E eu particularmente acho esse estilo artístico muito bonito e impressionante, de certa forma (o game citado aí ganhou muitos prêmios em seu lançamento por conta de toda essa qualidade visual inovadora para época). Parabéns a equipe ‘DreamWorks’ por todo esse cuidado e escolhas na produção e caracterização dos personagens e cenários.
 Enfim, vale a pena ver o filme? MUITO RECOMENDADO! Com uma bela homenagem aos mais variados estilos musicais, “Trolls 2” vai muito além de ser um filme musical e interage com o público de forma peculiar, esbanjando respeito a diversidade desses e declarando que todos eles podem viver harmoniosamente em um mundo fragmentado de estilos. A diversão é garantida em todos os aspectos, tanto para o olhar mais crítico quanto para o mais inocente. Vale muito o ingresso!







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